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Entrevista com a ilustradora Bruna Lubambo

quer descobrir mais sobre o processo criativo do livro "Seu Tainha"? veja nossa conversa com a ilustradora.

1)Por aqui, nós somos apaixonados pelas ilustrações de Seu Tainha, todas feitas em madeira. Pode nos contar como foi o seu processo de criação? Você pensou em pintar em madeira desde o início? Quanto tempo você levou para criar todas as ilustrações?


Quando a Janaína me chamou para ilustrar Seu Tainha eu estava com um pequeno estoque de madeiras de Louro de embarcação que comprei lá no Cais José Mariano (Recife), para fazer xilogravuras. Inicialmente eu não pensei em usar madeira, fiz os primeiros "rabiscos" no papel e na hora de finalizar uma ilustração eu lembrei dessas madeiras que justamente eram de embarcação, como Seu Tainha. Aí eu pensei, tenho que fazer Seu Tainha na madeira de embarcação! Claro! Hehehe. Eu fiz os primeiros testes nessas madeiras, a Janaína curtiu e resolvi seguir nessa linha. Porém tive que trocar a madeira, porque a largura das madeiras que eu já tinha era curta demais para as páginas duplas que eu iria trabalhar.

Aí eu larguei mão do louro de embarcação e fui para o compensado de tauari. Mas a ideia inicial continuava ali (sem contar que também dá para fazer barco de compensado naval de tauari! hehe) . Para pintar resolvi usar só tinta de parede branca com pigmento Xadrez, usando muitas cores primárias (vermelhão, azulão, amarelo). São cores que eu vejo muito nos barcos do litorial norte de Pernambuco, em especial na Ilha de Itamaracá, onde meus pais moram e onde eu passava minhas longas férias de verão durante a infância e adolescência.

Sobre o tempo, não me lembro ao certo... Tivemos algumas idas e vindas, refiz todos os rascunhos iniciais... tivemos ilustrações adicionais... se juntar tudo deve ter ido pra mais de 6 meses. Foi trabalhosinho.
2) Como surgiu o visual do Seu Tainha? Em sua infância, você teve contato com barcos de pesca como o da história?
Acho que acabei respondendo na primeira. Tive sim contato, apesar de eu ter crescido no interior de Minas e ainda morar no interior do Brasil (em BH), minha família é toda praiana, de Pernambuco (onde também se pesca tainha). Todas minhas férias eram na casa de voinha, com cheiro de sargaço. Na minibio do livro eu conto um pouquinho disso. Subir nos barcos ancorados na praia e brincar de saltar deles era uma das brincadeiras favoritas. Ainda é na verdade.

3) O projeto gráfico de Seu Tainha tem uma janela, que é uma faca especial, nos conte como surgiu essa ideia e como ela influencia a narrativa visual.

A ideia surgiu com o texto. Essa coisa que a Janaína traz de brincar com os dois lados que se encontram por uma janela: de um lado o menino, do outro o barco. Inicialmente eu ia trabalhar essa ideia dos lados na página par e na página ímpar (página da esquerda e página da direita). A página da direita seria o mar e o barco, que se movimentaria ali até vazar para o outro lado, que seria do menino e da areia (que também iria ali na página da esquerda brincar de observar o mar e o barco).

Mas as ilustrações ficaram com muitas lacunas e o texto da Jana também é muito aberto, poético. Daí a gente avaliou que faltavam algumas ancoragens importantes que seria legal a ilustração trazer. Refiz todas os rascunhos e, naturalmente, a narrativa visual. Daí essa ideia dos dois lados saiu do "página direita x página esquerda" e foi para o "dentro x fora". Achei que a faca especial da janela para entrar na história e depois para sair da história iria dar corpo a essa proposta.
4) Em sua bio, você nos conta que sua formação como artista visual é informal e fala das suas experimentações artísticas. Qual foi o seu primeiro contato com a arte visual? Você diria que tem uma técnica de gravura e/ou pintura favorita?
Eu entrei no curso de comunicação social na UFMG em 2009. Na época a gente não escolhia a habilitação antes de entrar. Eu pensava em fazer habilitação em Rádio/TV para ser locutora. hehe. Mas no meio do caminho eu entrei em um projeto de extensão e acabei me formando mesmo como "extensionista" (com habilitação em Relações Públicas). O projeto era o Polo Jequitinhonha e eu fui chamada por uma colega de turma para diagramar o informativo do Festivale (um festival de cultura popular do Vale do Jequitinhonha) feito junto com os jovens da cidade que iria sediar a edição do Festival, que era Padre Paraíso. Acho que aí foi um divisor de águas, eu me dediquei muito aquilo ali. Fiz os cabeçalhos ilustrados inspirados nas cerâmicas do Jequitinhonha (cada dia com uma ilustração diferente). O pessoal gostou muito e eu também.

Virei bolsista do Polo e comecei a dar várias oficinas de criação visual para jovens e crianças (usando como base teórica algumas matérias de criação visual que a gente tinha na grade do curso de comunicação). Daí para frente minha formação foi muito como oficineira. Para dar oficinas legais, com propostas, linguagens e técnicas divertidas, eu ia fazendo um bocado de cursos e oficinas livres e depois aplicava as coisas que eu aprendia nas oficinas.

Quando eu me formei, fui trabalhar como oficineira e designer na Agência de Iniciativas Cidadãs e continuei nessa levada. Fiz cursos livres no cenex da Belas Artes da UFMG, no Palácio das Artes (BH), no Museu de Memória Gráfica da UFMG, em coletivos de artes gráficas, em projetos do SESI e por aí vai...

Sobre uma técnica favorita, não tenho não.


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